O gado Canchim completa 70 anos de história na pecuária brasileira, marcando um capítulo extraordinário no desenvolvimento da bovinocultura nacional. Na verdade, essa raça, resultado do cruzamento de 5/8 Charolês e 3/8 Zebu, tem revolucionado a produção de carne no país, proporcionando aos pecuaristas um aumento de até 20% na produtividade.
Desenvolvido na década de 1940 na Fazenda de Criação de São Carlos, SP, o Canchim se destaca pela sua eficiência reprodutiva e qualidade de carne superior, com rendimento entre 57,5% e 62,4%. Além disso, o cruzamento do touro Canchim com vacas nelore tem se mostrado uma combinação excepcional, permitindo o abate precoce aos 18 meses em sistemas de confinamento.
Neste artigo, vamos explorar a trajetória dessa raça genuinamente brasileira, desde sua criação até seu papel atual como uma das principais opções para a produção de carne de qualidade em nosso país.
A História do Desenvolvimento do Gado Canchim
Em 1940, na antiga Fazenda de Criação de São Carlos, iniciou-se uma das mais importantes pesquisas da pecuária brasileira. O médico veterinário e zootecnista Dr. Antônio Teixeira Vianna começou os trabalhos que dariam origem ao gado canchim.
Os primeiros cruzamentos na Fazenda Canchim
Inicialmente, Dr. Vianna utilizou 53 touros charoleses nacionais com 292 vacas Indubrasil, 44 vacas Guzerá e 32 vacas Nelore. O objetivo principal era combinar a adaptação do Zebu aos trópicos com a precocidade e rendimento econômico do gado europeu.
O papel da Embrapa no desenvolvimento da raça
A partir da década de 1970, a Embrapa intensificou os estudos com a formação de núcleos-piloto em diversos estados brasileiros. Posteriormente, em 1977, a instituição apoiou a formação do Canchim por meio de cruzamento absorvente, mesmo enfrentando divergências com o formador da raça.
O reconhecimento oficial da raça
Em 25 de setembro de 1972, o Ministério da Agricultura concedeu à Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Canchim (ABCCAN) a inscrição para executar o registro genealógico dos bovinos Canchim. Além disso, em 11 de novembro do mesmo ano, o primeiro exemplar foi oficialmente registrado pelo então Ministro da Agricultura, Prof. Luiz Fernando Cirne Lima.
O reconhecimento definitivo como raça veio através da portaria nº 130, de 18 de maio de 1983, quando o bovino do Tipo Canchim passou a se denominar oficialmente Raça Canchim. A partir do ano 2000, a ABCCAN e os criadores começaram a enfatizar as Provas de Avaliação de Desempenho, visando desenvolver touros para o cruzamento industrial.
Características Genéticas do Touro Canchim
A composição genética do touro Canchim representa uma combinação estratégica que une as melhores características de duas raças distintas.
Composição genética Charolês-Zebu
O DNA do Canchim é formado por uma proporção específica de 5/8 de Charolês e 3/8 de Zebu. Esta combinação genética foi cuidadosamente desenvolvida para maximizar o potencial produtivo do rebanho. As estimativas de herdabilidade do efeito genético direto, obtidas através de análise multicaracterística, demonstram valores significativos: 0,39 para peso ao nascer, 0,31 para peso à desmama e 0,29 para peso aos 12 meses.
Vantagens da heterose
A heterose, também conhecida como vigor híbrido, proporciona benefícios substanciais ao Canchim. As análises genéticas revelam que bezerros F1 apresentaram um incremento de 15,99% no ganho de peso pré-desmame. Além disso, as correlações genéticas entre pesos obtidos em idades jovens com peso à idade adulta são expressivamente altas, superando 0,79.
Padrão racial e conformação
O padrão racial do Canchim inclui características específicas que definem sua conformação ideal:
- A amplitude da anca e da garupa
- A largura e o comprimento do dorso
- O arqueamento das costelas
- A bolsa escrotal e os testículos
A coloração da mucosa, elemento fundamental do padrão racial, é classificada em nove categorias distintas, desde bronze clara até preta. Consequentemente, animais com mucosas despigmentadas ou manchadas não são aptos ao registro genealógico nem utilizados na reprodução.
Desempenho Produtivo da Raça
Os estudos científicos comprovam o excepcional desempenho produtivo do gado Canchim em diferentes sistemas de criação.
Ganho de peso e precocidade
Os machos não castrados da raça apresentam ganho médio diário de 1,65 kg e ingestão de matéria seca de 9,05 kg/dia. Em provas de ganho de peso, os garrotes com idade média de 8 meses atingem ganhos médios de 1,35 kg por dia. Além disso, quando comparados com outras raças, os animais Canchim demonstram excelente conversão alimentar de 7,0 kg/kg em confinamento.
Qualidade da carcaça
O rendimento de carcaça do Canchim alcança índices notáveis, chegando a 60%. Os machos não castrados apresentam peso médio de carcaça quente de 253,85 kg. Consequentemente, a área de olho de lombo atinge 82,64 cm², demonstrando expressivo desenvolvimento muscular.
Adaptabilidade ao clima tropical
A adaptação ao ambiente tropical brasileiro é uma das características mais marcantes da raça. Portanto, os animais apresentam pelagem curta e pele escura, características que favorecem sua resistência ao calor. Em sistemas de integração lavoura-pecuária, os bovinos Canchim demonstram excelente desempenho, podendo ser terminados em diferentes idades:
- Até 18 meses quando confinados após desmama
- Até 24 meses quando confinados na terminação
- Aos 30 meses quando criados exclusivamente a pasto
Os resultados das avaliações de desempenho mostram que o Canchim mantém altos índices produtivos mesmo em condições climáticas adversas, com ganhos de peso significativos tanto em pastagem quanto em confinamento.
Programas de Melhoramento Genético
O registro genealógico representa o alicerce do melhoramento genético do gado Canchim.
Seleção e registro genealógico
A Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN) mantém um sistema informatizado que controla toda a genealogia da raça. O processo inicia com a comunicação de cobertura, seguida pela comunicação de nascimento. Por volta dos 18 meses, técnicos credenciados realizam vistorias para verificar se os animais atendem às exigências do padrão racial.
Avaliações genéticas
As estimativas de herdabilidade demonstram o potencial de melhoramento da raça. As análises multicaracterísticas revelam valores significativos: 0,39 para peso ao nascer, 0,31 para peso à desmama e 0,28 para peso aos 18 meses. Além disso, as correlações genéticas entre pesos em diferentes idades são expressivamente altas, superando 0,79.
Tecnologias modernas no melhoramento
A Prova Canchim de Avaliação de Desempenho (PCAD), estabelecida em 2011, avalia anualmente mais de 200 animais dos principais criatórios. O programa analisa características essenciais:
- Ganho de peso diário e peso final
- Perímetro escrotal e conformação frigorífica
- Área de olho de lombo e espessura de gordura
- Qualidade de pelagem e caracterização racial
Consequentemente, o programa ATJ Canchim (Avaliação de Touros Jovens) utiliza estas informações para identificar reprodutores superiores, contribuindo para o conhecimento do valor real dos touros através dos sumários da avaliação genética publicados pelo programa Geneplus/Embrapa. Portanto, os animais classificados como Elite representam o mais alto padrão genético disponível para o melhoramento dos rebanhos comerciais.
Conclusão
Certamente, o gado Canchim representa uma conquista notável da pecuária brasileira. A combinação genética de 5/8 Charolês e 3/8 Zebu resultou em uma raça que une precocidade, qualidade de carcaça e adaptabilidade ao clima tropical. De fato, os resultados comprovam o sucesso deste desenvolvimento, com ganhos diários superiores a 1,65 kg e rendimento de carcaça alcançando 60%.
A evolução dos programas de melhoramento genético, aliada ao rigoroso controle genealógico da ABCCAN, garante o progresso contínuo da raça. Assim, criadores que optam pelo Canchim encontram uma alternativa eficiente para aumentar a produtividade de seus rebanhos, seja em sistemas de pastagem ou confinamento.
Portanto, após 70 anos de história, o Canchim consolida-se como uma raça genuinamente brasileira, comprovando que investimentos em pesquisa e desenvolvimento genético podem criar soluções adaptadas às necessidades específicas de nossa pecuária.
